terça-feira, 22 de julho de 2014

ERROS! SEMPRE É BOM LEMBRAR DELES!




Era dia 29 de dezembro de 2012 e os raios de sol haviam acabado de entrar pela vigia do veleiro vivre, e como de costume, foram buscar meu rosto, gosto de despertar assim! Levantei bem quietinho para não acordar ninguém antes de fazer o café, sempre que estamos passando alguns dias no vivre quem faz o café sou eu, também gosto desta tarefa.

- Pai, o que iremos fazer hoje, para onde vamos? - Perguntou o Willyan, meu filho mais velho, ainda com aquela cara típica de quem acabou de acordar e já com uma caneca de chocolate nas mãos.
- Ouvi falar de um barzinho muito legal que fica na praia do Soares, vamos para lá! Respondi. Se ele soubesse o que passaria neste dia, ele teria ficado em Caçapava na casa da vó!

A praia do Soares é uma pequena praia incrustada na costa de Ubatuba, só se chega lá de duas maneiras, de barco ou por trilha, carro e moto nem pensar, e tem como principais atrações as belezas naturais, a calma, que são a inspiração dos velejadores de cruzeiro (se é que posso me considerar um deles!), e o bar do Soares!

Todos já tinham tomado seu café, o barco estava em condições de velejar, louça lavada e guardada ,na verdade é tudo de plástico exceto as panelas e os talheres, o vento era fraquinho e eu icei as velas com a ajuda dos meninos, mestra e genoa, todo o pano em cima, dei partida no motor que não dava seguimento pois não estava engatado, sempre deixo o motor ligado alguns minutos antes de sair, aumenta a confiança no equipamento sabe? Dei a ordem para o Wallace, meu segundo filho.
- Pode soltar o barco, estamos prontos!
  Engatei o motor que roncava aquele som monótono e o vivre seguiu lentamente, os meninos já me falaram que preferem ficar boiando a navegar com o motor, contudo, o motor ainda é parte importante do veleiro para mim, mais até do que as velas, já que elas me causavam um certo desconforto, e esse desconforto só iria aumentar dentro de algumas horas.

Desliguei o motor, assim que saímos da área onde as lanchas, veleiros e outros tipos de barco ficam amarrados em suas poitas lá no Saco da Ribeira. O Saco de Ribeira é um lugar fantástico, cheio de veleiros que se enxerga da estrada, tem até alguns mirantes na rodovia, quem olha lá de cima não consegue sentir o pulsar da vida entre os barcos, são famílias em seus botes passeando entre os barcos amarrados, marinheiros tentando ganhar a vida honestamente, as vezes nem tão honestamente, pequenos pecados são constantemente cometidos por alguns deles, coisas como usar materiais inferiores ao combinado, preços e prazos estourados, camuflagens perigosas de serviços mal feitos ou incompletos, essas coisinhas, lanchas partindo ao mar cheias de gente e música alta, tem também os pescadores em seus "toc tocs" e a turma do churrasco no veleiro, muita vida em muitos barcos! O vento estava fraco e velejamos preguiçosamente entre 1 e 2 nós, atravessamos assim a praia do flamengo e fomos em direção a ponta grande de onde já dava para enxergar a ilha do mar virado, que não tem esse nome a toa, e eu deveria ter me atentado a esse detalhe, como nosso destino estava longe e o vento fraco resolvi dar partida no motor e seguir a vela e a motor!

O veleiro estava entre a ilhota de fora e a laje dentro, aquele pedacinho de mar é cheio de lajes, em outra ocasião eu tracei a rota na carta náutica e o Willyan me pergunto porque motivo eu queria fazer o vivre atravessar a laje perdida:
- Pai, o senhor colocou rodas no vivre? Pois vai passar bem encima da laje perdida!
Eu disse que tinha traçado aquela linha para ver se ele estava esperto - Mas ele não caiu!

Pois bem, continuando, estávamos perto da ilha do mar virado, entre a ilhota de fora e a laje de dentro quando entrou uma rajada de vento que encontrou todas as velas em cima e um motor ligado em velocidade de cruzeiro, o vivre adernou mais do que eu gostaria e estava acostumado, a Lena minha esposa estava dentro da cabine com o Gabriel, meu terceiro filho, ela o agarrou e sentou com ele na cama de bombordo, enquanto as latas de mantimentos e as frutas se espalhavam pelo interior do veleiro como se estivesse em uma máquina de lavar roupa, o Gabriel na época com com dois anos, não entendia nada do que estava acontecendo, mas, talvez por sentir a tensão na maneira que a mãe o pegou e protegeu, começou a chorar, o Wallace que estava na proa do barco, meu primeiro erro, escorregou e foi parar no guarda mancebo, o Willyan estava ao meu lado no cockpit com a escota da genoa nas mãos como de costume. O barco adernado a ponto de que, quem olhasse da vigia  só veria água, parecia que estávamos inclinados a 60 graus, o motor girando o hélice fora da água, e quando isso acontece aquele som monótono do motor se transforma em um rugido de um animal feroz, feroz e faminto, tudo isso aconteceu em questão de segundos, eu só queria que o barco voltasse pra uma posição confortável, então cometi o maior erro de todos, soltei a escota da mestra e com uma guinada na cana de leme aproei o barco para o vento, mandei o Willyan ir até a proa e ajudar o irmão a baixar a genoa, ele atendeu prontamente, mas como o mar não perdoa erros, em especial os erros idiotas, assim que ele levantou o vento rondou e encheu a vela mestra, vento forte, barco aproado ao vento e escota da mestra solta só poderia resultar em uma coisa,  por sorte eu estava com a escota da mestra na mão e quando percebi o que ia acontecer cacei, puxei aquele cabo com toda a velocidade que meu braço permitia, mas não teve jeito, foi um TOC chocho e o menino caiu dentro do cockpit, a retranca tinha cruzado o cockpit e parado na cabeça do Willyan, por sorte, muita sorte, ele caiu dentro do barco, achei que ele tinha quebrado o nariz ou mesmo o crânio, e assim como a rajada de vento chegou, ela passou, só durou o suficiente para causar o acidente.

Quando o Willyan se levantou, tinha aquele olhar de quem esta confuso, de quem acabou de acordar de um pesadelo e percebe que esta na cama, desliguei o motor, e o Wallace, que na primeira oportunidade tinha pulado como um gato para dentro do cockpit, assumiu o leme e eu fui examinar a cabeça do marinheirinho ferido enquanto a Lena acalmava o Gabriel e tentava entender o que tinha acontecido, não achei nada além de um belo galo, tudo tinha sido apenas um susto, lição dada lição aprendida, imediatamente comecei a enumerar meus erros, que foram muitos e primários.

Nos próximos posts vou contar como, exatamente um ano depois, uma situação parecida aconteceu novamente, porém com um desfecho menos doloroso para a cabeça do Willyan e para meu ego! 

9 comentários:

  1. Fala Volnei blz..
    Passei por uma dessas, bem no inicio do aprendizado, estava todo metidão com as duas velas erguidas quando entrou um vento de boreste, quase borrei na zorba kkkk. A minha esposa tem a cabeça desenhada na retranca de tanto bate, e claro que eu também dou umas cabeças lá.
    Abraço e bons ventos.

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    1. Nilson, por essas e outras, mantenho minha calça marrom sempre a bordo!

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  2. Ah, a Praia do Soares! Qualquer dia vou lá!!!

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    1. Juca, vou lhe dar um conselho:
      NÃO DORME LÁ DE JEITO NENHUM!!!!!!

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  3. Salve Capitão!
    Comprei um Boto 16 e estou terminando a reforma, ele esta na represa Guarapiranga. Pretendo desce-lo para Ubatuba em Outubro, gostari se possível algumas dicas de onde deixa-lo e, se foi o seu caso, transporte do barco Sampa/Ubatuba. Grande abraço!

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    1. Oi Mauro, você pode deixar na Ribeira ou no Itaguá, quando eu tinha um 16 pés eu deixava na marina tamoios a vantagem era que o barco ficava no seco mas tinha o custo de R$ 250/mes

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    2. Obrigado Walnei. Em setembro vou pra Ubatuba, vou fazer uma travessia com o Juca , aí aproveito para dar uma sapiada. Abração.

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    3. Muito obrigado, Walnei. Em setembro estarei por lá, vou fazer uma travessia com o Juca e aproveito para dar uma sapiada. abração

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    4. Vai com o Juca então vai bem o cara é um dos melhores que conheço, se precisar de algo meu email é walnei.antunes@gmail.com

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