segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

PESCOÇO DE GANSO!

Sabadão de manhã o Wagner já estava na rodoviária de Caçapava nos esperando, não sabíamos mas uma viagem bem congestionada estava nos esperando, saímos as 8:40 da rodoviária e só chegamos na Ribeira as 14:00 horas, fomos por Caraguá, fazia um tempão que eu não passava pela  Rodovia dos Tamoios, que esta bem diferente, duplicada até o trecho de serra, bem sinalizada, mas eu ainda prefiro a Oswaldo Cruz simplesmente porque a paisagem é mais bonita. No carro estávamos eu o Wagner, o Willyan, o Wallace e o Gabriel.

O Windguru apresentava um previsão de vento fraco e muito calor para o sábado, a parte do calor estava certa, mas aquele tempo quente e seco, abafado, sem nenhuma brisa não indicava isso, algo me dizia que no final da tarde viria uma boa chuva de verão e como sempre antes da pancada umas boas rajadas poderiam aparecer e eu estava contando com isso.

Quando chegamos na Ribeira montamos tudo muito rápido e embarcamos quase sem nenhum problema, a exceção foi o motor de popa que resolveu fazer graça, mas rapidamente desmontei o carburador do Tohatsu, lubrifiquei bem as peças e logo ele voltou a funcionar como novo. Rapidinho o Vivre estava abastecido de água, gelo, refrigerante e cerveja, ai foi só colocar todo pano em cima e sair naquele ventinho de 4 ou 5 nós, o destino era a Enseada do Flamengo, é bem pertinho, mas eu realmente estava contando com as rajadas de vento que o Windguru não previu, assim que saímos do Saco da Ribeira já dava pra ver as nuvens cinzas lá no horizonte, eu estava certo quanto a chuva de verão, mas ainda esperava as rajadas, que logo chegaram.

Eu tinha que enfrentar uma situação que me atrapalha bem, quando minha família esta embarcada, eu ficou mais frouxo (cagão mesmo), uso muito mais o motor e quando abro velas não tem vento, deve ser algum mecanismo de proteção que o meu cérebro desenvolveu sem meu consentimento, mas nessa velejada isso iria acabar, o vento chegou anunciando a chuva de verão, e eu ainda estava com os panos todos em cima, o vento foi aumentando gradativamente e quando eu percebi estávamos numa orça fechada num vento de norte-nordeste bem forte, com todo aquele pano não poderia ser diferente e o barco estava bem adernado, mas eu estava preparado, eu fui soltando a mestra um bocado e sob meu comando o Wallace foi soltando a genoa, ao mesmo tempo em que eu arribava um pouco, mas eu precisava mudar o rumo completamente, tinha que voltar para o centro da enseada, se eu desse um bordo o Vivre iria adernar muito, então dei um jaibe, que a tripulação executou com maestria. Se o comandante passa segurança a tripulação não se apavora, da última vez que tive experiência com ventos forte e minha família dentro do Vivre, tranquei todo mundo dentro da cabine, o Gabriel abriu a boca chorar, os meninos maiores assustados queriam  sair para me ajudar, coisas caindo dentro do barco, a Lena com os olhos estalados segurando o Arthur no colo, foi um fiasco, desta vez foi diferente, o Willyan com o Gabriel dentro da cabine acalmando-o e fez isso muito bem, o pequeno até se divertiu com a situação, todos cientes de que o vento aumentaria, e que estava tudo sob controle, sem pânico, sem choro de criança, sem susto.

Mesmo com tudo sob controle estava ficando difícil de controlar o Vivre, o vento fazia uma força descomunal nas velas e as escotas foram ficando pesadas e o barco cada vez mais arisco, eu teria que rizar a mestra com o barco em movimento, as adriças do Vivre ficam amarradas no cunho lá no mastro, portanto, o Wallace teria que ir lá, coloquei o Vivre numa orça bem fechada, e quando o Wallace deu o sinal eu cacei bem as escotas e deixei o barco panejar naquele ventão, assim que ele soltou a adriça da mestra eu escutei e senti um forte estalo, chegou a balançar o mastro, foi estranho de mais, o pior que só eu notei, perguntei para o Wagner se ele tinha sentido o tranco ele disse que não, dei a ordem para o Wallace arriar totalmente a mestra e depois iriamos baixar a genoa, aquele estalo seguido de tranco não era um bom sinal. A faina de arriar as velas que o Walace executou foi perfeita, e vou dizer que  não é fácil baixar uma vela quando o vento passa dos 10 nós, eu cálculo que estávamos em um vento de 13 a 15 nós.
Foi uma velejada radical de uns 15 minutos ali na enseada,  assim que as velas foram arriadas a chuva chegou, fria como gelo, foi bom pois serviu para dar uma arriada na adrenalina também, confesso que estava orgulhoso por manter a situação sob controle, mas o coração estava a milhão dentro do meu peito, foi ótimo!

Pegamos uma poita emprestada na praia do flamengo, eu e o Wagner fomos esticar uma lona sobre o Vivre, para deixar a situação um pouco mais confortável, a chuva já havia passado mas o céu prometia mais uma pancada, antes de mais nada enrolei a mestra na retranca e quando eu cacei o amantilho, sim eu caço meu amantilho, descobri o que tinha sido aquele estalo, a retranca caiu, o vento foi tanto e fez tanta força que causou um estrago no gooseneck do Vivre.

Gooseneck, é uma peça que faz a junção da retranca com o mastro do veleiro e permite que a retranca se movimente para todas as direções, é uma junção das palavras inglesas  Goose = ganso e Neck = pescoço, aqui no Brasil os marinheiros mais abrasileirados, ou aqueles cuja cultura náutica veio do berço simples da marinharia caipira, chamam essa peça de  garlindéu, eu prefiro garlindéu.

Ao contrário do que parece, não houve nenhum jaibe chinês (aqueles não intencionais que geralmente terminam com um tranco no bordo contrário) ou algum movimento que pudesse romper a peça, minha análise da peça é que ela já estava avariada e com o esforço se partiu, simples assim.

E assim o Vivre esta fora de combate até que eu ache alguém para arrumar minha retranca, parece que tem um senhor que faz esse trabalho lá em Ubatuba, mas só pega no batente ano que vem.

Limpamos o casco do Vivre, almoçamos e voltamos para a Ribeira velejando só de genoa, mas logo senti que o barco estava diferente, não sei se foi só impressão minha, mas resolvi guardar as velas e seguir de motor.

Assim acabou o final de semana em que o Vivre quebrou o pescoço!

2 comentários:

  1. Passeio muito gostoso,valeu Walnei pelo convite. Ah, estou sem celular, só amanha agora

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    1. Wagner, final de janeiro estaremos lá de novo! Eu te aviso!

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