Uma das melhores coisas que a tecnologia trouxe, foi aproximar pessoas com interesses comuns, já faz um tempo que participo de um grupo de velejadores no WhatsApp, e foi nesse grupo que eu tive o prazer de ler uma das histórias mais bonitas que eu já li, e o melhor foi um caso verídico, agradeço ao Aurélio Paiva por me contar essa pérola que agora tenho prazer de compartilhar com vocês:
"Eu tinha uma propriedade no Saco da Velha, próximo a Paraty-mirim, por onde pegávamos o barco para atravessar.
Ventava muito, tipo 30 nós noroeste, eu e minha esposa chegamos e logo fomos ao portinho, lá chegando encontramos uma cena horripilante, um Fast 345 em rota de colisão com as pedras, panos em cima flamulando, cabos chicoteando para todos os lados...
...Uma catástrofe iminente.
De onde estávamos dava pra ver o pânico do casal que estava a bordo e um bote inflável vindo de lá em direção ao pier na maior folga, estranhei claro, e no meu instinto salvador fui logo de encontro ao bote para saber porque não tinha socorrido o casal. O SAFADO negou socorro porque o comandante do veleiro não podia pagar R$ 1000,00 naquele momento, não pensei duas vezes, deu um empurrão no safado que caiu nas pedras e enquanto ele tentava se levantar eu sequestrei o bote e saí em direção ao veleiro desgovernado, o vento estava tão forte que eu não podia dar velocidade no bote, ele navegava de lado e o Fast em rota de colisão com as pedras...
Cheguei junto com o primeiro impacto, amarrei o bote no guarda mancebo mesmo e pulei a bordo, o que eu vi dentro do veleiro foi de cortar o coração, um casal de velhinhos apavorados só esperando a morte, corri e peguei os estofados do barco para proteger o casco, mandei o casal para dentro da cabine e passei a mão em uma faca para cortar os cabos que impediam as velas de arriar. Dentro da cabine estava um horror, tudo espalhado e o zunido alto do vento deixava tudo mais apavorante ainda, e as porradas nas pedras... Meu Deus! Finalmente consegui cortar o adriça que estava prendendo a mestra e o pano caiu sobre mim, alívio imediato, as pancadas diminuíram bastante, foi quando escutei uma gritaria, olhei entre os borrifos e vi um barco azul e branco, as cores da bandeira de Ubatuba, aproado para o Fast e gritando para eu pegar o cabo. Eu só ouvia o barulho do motor em alta rotação indo e vindo e nesse vai e vem consegui pegar a ponta do cabo e meti no cabresto... Logo senti o tranco da puxada.
Naquele momento consegui ler o nome do barco salvador, era o pesqueiro Lua Cheia, vendo aquele bruta barco nos afastando daquele terror sentei na proa e chorei, chorei como criança.
O Lua cheia nos rebocou até a ilha da Preguiça, um super abrigo, lá soltei a âncora que estava toda enrolada nos cabos e fundeei o Fast em segurança, os velhinhos assustados me perguntaram quanto custaria aquela operação toda, na hora retruquei:
- Imagina que eu vou lhes cobrar!!! Jamais. Isso ele falou quando eu estava aduchando os cabos e colocando ordem no convés.
Então, senti a mão da senhorinha no meu ombro e com a voz ainda trêmula me disse:
- Foi Deus que te mandou aqui meu filho.
O velho já muito mais calmo do que a esposa disse:
- Pode deixar que eu arrumo o resto!
Não queria olhar diretamente para eles, sabia que iria me emocionar de novo, mas não tinha mais como adiar e levantei a cabeça com o choro na garganta e abracei os dois como se fossem meus avós. Nessa hora, a tripulação do Lua Cheia parou a contra-bordo e vieram me dar os parabéns, percebi que minha esposa, barrigudinha de nossa primeira filha, estava a bordo do pesqueiro e tinha assistido a tudo, foi ela que em terra procurou ajuda e encontrou o Lua Cheia, na verdade foi ela quem nos salvou.
O Fast 345 do Rio de Janeiro, nada sofreu, um tanque de guerra, só teve arranhões, já o estofamento ficou em pedaços lá nas pedras mesmo.
O Velhinho me deu um UÍSQUE JEHU, a coisa mais gostosa que já tomei, e a velhinha o ABRAÇO mais gostoso que já senti!"
Nestes momentos, sentimos que somos uma grande família!!!
ResponderExcluirObrigado por relatar no seu blog essa minha experiência. Certamente servirá para outros comandantes no momento de extrema condições onde as decisões devem ser tomadas de imediato e instintivamente.
ResponderExcluirObrigado Aurélio por permitir que eu tivesse a honra de contar essa maravilhosa história aqui no blog, particularmente acho que este é o post mais bonito e gostoso de todo o blog.
ExcluirObrigado por relatar no seu blog essa minha experiência. Certamente servirá para outros comandantes no momento de extrema condições onde as decisões devem ser tomadas de imediato e instintivamente.
ResponderExcluirMuito legal Walnei!! Devemos, sim, passar adiante essas histórias!!
ResponderExcluirParabéns Aurélio!! Isso que nos faz diferentes!! Nem melhores nem piores, apenas diferentes.
Pois é Ricardo, não conheço comunidade mais solidária e preocupada com o próximo do que a comunidade das pessoas que lançam, verdadeiramente, ao mar, velejadores, pescadores, militares, talvez essa solidariedade toda se deva ao fato de sabermos que ninguém esta livre de necessitar de ajuda no mar.
ExcluirEste é que é o verdadeiro espírito dos homens do mar - parabéns
ResponderExcluirQuer lega, parabéns.
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