sexta-feira, 20 de novembro de 2015

RIME OF THE ANCIENT MARINER.PARTE 4.

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Parte 2 
Parte 3 



O Vento:
Assim que cheguei na poita eu amarrei o barco, a poita do Vivre tem 4 alças, duas com cabos grossos e duas com cabos finos que eu mesmo fiz, gosto de fazer essas marinharias, como estava com pressa para desembarcar o Dani por causa da febre, eu prendi o veleiro somente com alças mais finas, prendi o reforço do top da genoa no mosquetão que prende o punho da amura, traduzindo prendi a parte de cima da vela junto com a parte de baixo bem onde a vela fica presa na proa, amarrei a grande com um elástico, desses de moto, na própria retranca.
Depois de um dia cheio e muito quente, com direito a mergulho com motor e tudo, deixei os visitantes no pier do Saco da Ribeira por volta da 18 horas, dei um pulinho no mercadinho tomei duas cervejas e comprei mais quatro pra tomar no Vivre, é gostoso tomar uma gelada no barco, principalmente em uma noite quente, eu sento no cockpit e fico apreciando o balanço do mar e os peixes pulando, na verdade cerveja é bom até na fila pra tomar vacina. A noite estava quente e a cerveja já fazia seu trabalho diurético, e toda hora lá estava eu na prainha do barco fazendo xixi, é muito legal fazer xixi de noite no mar, em especial quando a noite esta escura, os planctons cintilam com um verde neon típico deles.
Deixei a cerveja de lado e fui me deitar um pouco, peguei o celular e por WhatsApp fui falar com o Luiz Cabral do veleiro Spirity Of Libert, um O´day bem ajeitado, estávamos combinando minha visita ao barco no domingo para fazer uns reparos na parte elétrica, de repente as velas começam a bater por conta de uma rajada forte de vento que entrou, saí para amarrar melhor as velas pois um elástico não iria segurar a grande se o vento aumentasse, já passei apertado com velas armando sozinhas por estarem mal amarradas, peguei uns cabos e amarrei a grande, quando fui amarrar a genoa o vento entrou de vez, e com vontade, até assoviava, perto do Vivre tem um barco com um sino e toda vez que venta o sino toca desesperadamente, tim, tim, tim, tim, o vento era tanto que não dava pra ficar de pé, fiz a amarração da vela sentado, me arrastando pelo convés, finalmente a vela estava toda amarrada, nem se mexia mais, quando olhei para os outros barcos foi bonito de ver, todos aproados para o vento como que fazendo um reverencia a ele, e o vento aumentava cada vez mais, nesse momento começou a tocar RIME OF THE ANCIENT MARINER no radinho do Vivre, adora essa música e não podia ter tocado em hora mais oportuna, corri para a cabine e aumentei o som no último, e o vento aumentando, lembrei que as alças que prendiam o Vivre eram finas e isso me preocupou, me arrastei para a proa de novo dessa vez com o croqui na mão, a ideia era laçar as alças mais grossas e amarrar o barco a elas também, e a música tocando alto:
"Hear the rime of the ancient mariner
See his eyes as he stops one of three
Mesmerizes of one of the wedding guests
Stay here and listen to the nightmares of the sea!"
Esta imagem ilustra bem como eu me senti!
Lacei as alças, mas o vento era tanto que não dava para coloca-las nos cunhos e em um esforço descomunal fiz uma alavanca com o croqui no púlpito, os músculos do meu braço pareciam que iam explodir, estava sentado com as perna para fora do barco, trancei as pernas no cabo do croqui e puxei com toda força do mundo, pronto uma alça estava presa, e o vento uivava, e o sino do outro barco tocava deixando a situação ainda mais tensa, dava pra sentir o cheiro da adrenalina que exalava do meu corpo, e apesar do vento eu suava em bicas, foi então que o mar começou a crescer, e eu me lembrei do bote que estava amarrado lá na popa, quando olhei não acreditei, o bote estava flutuando uns 30 centímetros acima da água, parecia uma pipa, o lais de guia que faço para amarrar o bote estava sendo posto a prova, e passou no teste, acabou a música, como tudo estava sob controle, pelo menos dentro do possível numa situação como essa, fui pra cabine e coloquei a música para tocar de novo, dessa vez mais baixo, fiquei olhando com admiração e encantamento a força da natureza, torci para que os cabos aguentassem, os do Vivre e os dos outros veleiros também, foram 39 minutos de emoção, fazia muito tempo que não me sentia tão vivo, tão forte, tão capaz, me senti um homem do mar, acho que foi efeito da adrenalina.
Quando o vento acalmou, abri a última cerveja e começaram a chegar as mensagens pelo celular, o Luiz Cabral, o Adir, o Hermes, todos queriam saber como eu estava, se estava tudo bem comigo e com o barco, naquela noite não consegui dormir.

2 comentários :

  1. Cara, que doidera, rsrsr... ouço os sinos ainda.... tu ta virando mesmo o velho guerreiro do mar meu amigo. E aquela uma latinha, desceu redondo não? rsrsr. Abraço e bons ventos... sempre.
    Att
    Rodrigo Fidelis

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