terça-feira, 29 de julho de 2014

FRIO NO BARCO É MELHOR QUE FRIO EM CASA!

O que leva um homem adulto normal a contar os segundos para ir até o mar, subir num bote embaixo de chuva e passar dois dias e uma noite sentindo frio, trancado dentro de uma cabine de veleiro? Eu acho que tenho a resposta - PAIXÃO!

Mas posso estar enganado, pode ser fuga, fuga do dia a dia, fuga da TV, da política, da rotina, também pode ser para tentar ensinar aos filhos o tamanho do mar, o tamanho do mundo, ensiná-los que a vida não se resume a dinheiro, trabalho, telefones celulares e vídeo games, mostrar-lhes que viver é muito mais que isso, dar-lhes uma janela muito maior do que a da sala de estar. Mais um motivo me ocorre, pode ser para voltar ao simples, dentro de um veleiro é tudo muito simples e a conversa flui naturalmente sobre coisas simples! Mas pode ser só paixão mesmo!

Neste final de semana fomos até o vivre só para ficarmos girando em torno da poita, mas girando com frio. Fomos eu, o Wallace, o Gabriel (esse não falha uma) e o Jamil que novamente foi munido de tudo que é tipo de equipamento de pesca, e novamente não pegou nadinha, nadinha, e o pior, perdeu uma isca de lula e um carretel inteiro de linha, a tralha criou vida e pulou da minha mão para o mar, até dava para pular na água e tentar pegar, mas "tava" muito frio!

Olhem as fotos ai:

Frio de renguear cusco

O nosso faz tudo!

Esse não abre mão de ir para o barco, e olha que a Lena tentou fazer ele ficar em casa viu!

Jamil e vinho Dani, em um relacionamento sério!

Como o Jamil não pescou, teve de fazer uma visitinha no mercado municipal de Ubatuba!


terça-feira, 22 de julho de 2014

ERROS! SEMPRE É BOM LEMBRAR DELES!




Era dia 29 de dezembro de 2012 e os raios de sol haviam acabado de entrar pela vigia do veleiro vivre, e como de costume, foram buscar meu rosto, gosto de despertar assim! Levantei bem quietinho para não acordar ninguém antes de fazer o café, sempre que estamos passando alguns dias no vivre quem faz o café sou eu, também gosto desta tarefa.

- Pai, o que iremos fazer hoje, para onde vamos? - Perguntou o Willyan, meu filho mais velho, ainda com aquela cara típica de quem acabou de acordar e já com uma caneca de chocolate nas mãos.
- Ouvi falar de um barzinho muito legal que fica na praia do Soares, vamos para lá! Respondi. Se ele soubesse o que passaria neste dia, ele teria ficado em Caçapava na casa da vó!

A praia do Soares é uma pequena praia incrustada na costa de Ubatuba, só se chega lá de duas maneiras, de barco ou por trilha, carro e moto nem pensar, e tem como principais atrações as belezas naturais, a calma, que são a inspiração dos velejadores de cruzeiro (se é que posso me considerar um deles!), e o bar do Soares!

Todos já tinham tomado seu café, o barco estava em condições de velejar, louça lavada e guardada ,na verdade é tudo de plástico exceto as panelas e os talheres, o vento era fraquinho e eu icei as velas com a ajuda dos meninos, mestra e genoa, todo o pano em cima, dei partida no motor que não dava seguimento pois não estava engatado, sempre deixo o motor ligado alguns minutos antes de sair, aumenta a confiança no equipamento sabe? Dei a ordem para o Wallace, meu segundo filho.
- Pode soltar o barco, estamos prontos!
  Engatei o motor que roncava aquele som monótono e o vivre seguiu lentamente, os meninos já me falaram que preferem ficar boiando a navegar com o motor, contudo, o motor ainda é parte importante do veleiro para mim, mais até do que as velas, já que elas me causavam um certo desconforto, e esse desconforto só iria aumentar dentro de algumas horas.

Desliguei o motor, assim que saímos da área onde as lanchas, veleiros e outros tipos de barco ficam amarrados em suas poitas lá no Saco da Ribeira. O Saco de Ribeira é um lugar fantástico, cheio de veleiros que se enxerga da estrada, tem até alguns mirantes na rodovia, quem olha lá de cima não consegue sentir o pulsar da vida entre os barcos, são famílias em seus botes passeando entre os barcos amarrados, marinheiros tentando ganhar a vida honestamente, as vezes nem tão honestamente, pequenos pecados são constantemente cometidos por alguns deles, coisas como usar materiais inferiores ao combinado, preços e prazos estourados, camuflagens perigosas de serviços mal feitos ou incompletos, essas coisinhas, lanchas partindo ao mar cheias de gente e música alta, tem também os pescadores em seus "toc tocs" e a turma do churrasco no veleiro, muita vida em muitos barcos! O vento estava fraco e velejamos preguiçosamente entre 1 e 2 nós, atravessamos assim a praia do flamengo e fomos em direção a ponta grande de onde já dava para enxergar a ilha do mar virado, que não tem esse nome a toa, e eu deveria ter me atentado a esse detalhe, como nosso destino estava longe e o vento fraco resolvi dar partida no motor e seguir a vela e a motor!

O veleiro estava entre a ilhota de fora e a laje dentro, aquele pedacinho de mar é cheio de lajes, em outra ocasião eu tracei a rota na carta náutica e o Willyan me pergunto porque motivo eu queria fazer o vivre atravessar a laje perdida:
- Pai, o senhor colocou rodas no vivre? Pois vai passar bem encima da laje perdida!
Eu disse que tinha traçado aquela linha para ver se ele estava esperto - Mas ele não caiu!

Pois bem, continuando, estávamos perto da ilha do mar virado, entre a ilhota de fora e a laje de dentro quando entrou uma rajada de vento que encontrou todas as velas em cima e um motor ligado em velocidade de cruzeiro, o vivre adernou mais do que eu gostaria e estava acostumado, a Lena minha esposa estava dentro da cabine com o Gabriel, meu terceiro filho, ela o agarrou e sentou com ele na cama de bombordo, enquanto as latas de mantimentos e as frutas se espalhavam pelo interior do veleiro como se estivesse em uma máquina de lavar roupa, o Gabriel na época com com dois anos, não entendia nada do que estava acontecendo, mas, talvez por sentir a tensão na maneira que a mãe o pegou e protegeu, começou a chorar, o Wallace que estava na proa do barco, meu primeiro erro, escorregou e foi parar no guarda mancebo, o Willyan estava ao meu lado no cockpit com a escota da genoa nas mãos como de costume. O barco adernado a ponto de que, quem olhasse da vigia  só veria água, parecia que estávamos inclinados a 60 graus, o motor girando o hélice fora da água, e quando isso acontece aquele som monótono do motor se transforma em um rugido de um animal feroz, feroz e faminto, tudo isso aconteceu em questão de segundos, eu só queria que o barco voltasse pra uma posição confortável, então cometi o maior erro de todos, soltei a escota da mestra e com uma guinada na cana de leme aproei o barco para o vento, mandei o Willyan ir até a proa e ajudar o irmão a baixar a genoa, ele atendeu prontamente, mas como o mar não perdoa erros, em especial os erros idiotas, assim que ele levantou o vento rondou e encheu a vela mestra, vento forte, barco aproado ao vento e escota da mestra solta só poderia resultar em uma coisa,  por sorte eu estava com a escota da mestra na mão e quando percebi o que ia acontecer cacei, puxei aquele cabo com toda a velocidade que meu braço permitia, mas não teve jeito, foi um TOC chocho e o menino caiu dentro do cockpit, a retranca tinha cruzado o cockpit e parado na cabeça do Willyan, por sorte, muita sorte, ele caiu dentro do barco, achei que ele tinha quebrado o nariz ou mesmo o crânio, e assim como a rajada de vento chegou, ela passou, só durou o suficiente para causar o acidente.

Quando o Willyan se levantou, tinha aquele olhar de quem esta confuso, de quem acabou de acordar de um pesadelo e percebe que esta na cama, desliguei o motor, e o Wallace, que na primeira oportunidade tinha pulado como um gato para dentro do cockpit, assumiu o leme e eu fui examinar a cabeça do marinheirinho ferido enquanto a Lena acalmava o Gabriel e tentava entender o que tinha acontecido, não achei nada além de um belo galo, tudo tinha sido apenas um susto, lição dada lição aprendida, imediatamente comecei a enumerar meus erros, que foram muitos e primários.

Nos próximos posts vou contar como, exatamente um ano depois, uma situação parecida aconteceu novamente, porém com um desfecho menos doloroso para a cabeça do Willyan e para meu ego! 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

QUANTO CUSTA MANTER UM VELEIRO?




Ai alguém me pergunta:
- Walnei, qual seu hobby?
E eu respondo:
- Velejar! - Como se falasse jogar futebol!
E sempre depois da resposta fico observando as pessoas, geralmente o que vejo é uma rápida e passageira expressão de susto, ninguém espera ouvir isso, então fico esperando a próxima pergunta, que poderia até responder antes da pessoa perguntar, pois a pergunta é invariavelmente a mesma, as palavras podem mudar mas a pergunta é a mesma:
- Ta milionário cara? 
Então, me preparo para outra rápida expressão de espanto quando respondo:
- Manter seu carro novo é mais caro que manter meu barco!

Não vamos falar aqui da aquisição do barco, mas dos custos que envolvem mantê-lo. No meu caso não pago marina, porém, alugo uma poita a R$ 100,00 mês, o que totaliza R$ 1200,00 por ano (esse custo não existirá mais, já que estou mudando para uma poita minha), tem também a "facada" do seguro obrigatório do barco R$ 17,00 por ano e a pintura de fundo R$ R$ 1500,00 a cada três anos, o que da R$ 500,00 por ano, não vou colocar aqui a limpeza do fundo pois isso eu mesmo faço, então custo zero se não levarmos em conta o valor da viagem, mas nem considero já que se eu não fosse limpar o fundo eu estaria no barco do mesmo jeito! AH! Tem também as manutenções como velas, vernizes, cabos, salvatagem, extintor, vamos calcular isso tudo em R$ 300,00 por ano. pronto, acho que temos um valor aproximado de R$ 2.017,00 por ano.

E o carro novo? IPVA R$ 1.800,00, pneus R$ 500,00 se você utilizar muito o carro talvez necessite trocar os pneus mais de uma vez ao ano, eu troco o óleo de 2 em 2 meses aproximadamente, e cada troca fica "nuns" R$ 100,00 totalizando R$ 600,00, manutenção mecânica vou calcular R$ 300,00 por ano, isso sem contar a revisão da concessionária, ainda tem  o seguro do carro, vou colocar baixo R$ 1.800,00 por ano, então teremos R$ 5000,00 por ano, isso se eu não errei na conta!

É claro que se você for reformar o barco, ou tiver que trocar algumas catracas ou estaiamento os valores podem disparar, mas isso não acontece todo ano! Agora, se você paga marina a coisa pode mudar de figura dependendo do barco e da marina você vai pagar algo entre R$ 280,00/mês até onde a imaginação do dono da marina permitir:


manter um veleiro:                              R$ 2017,00
Combustível para velejar o ano todo:  R$ 500,00
Mantimento para os passeios:             R$ 500,00
Velejar com a família, NÃO TEM PREÇO!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O QUE MAIS FAZEM AS VELAS ALÉM DE IMPULSIONAR O BARCO?



Esses dias assistindo ao canal #sal (https://www.youtube.com/watch?v=bFv1sfKzPkA&list=PLqL8XKXLzHW6C555j9gz-YvtG8qsZB6wl&feature=share), mais especificamente o vídeo Dia #10, pensei em como minha vida mudou desde que a vela entrou definitivamente nela, e descobri que gosto mais de viver, hoje toda vez que acendo um cigarro, toda vez mesmo, penso: quantos dias de mar este vício esta me roubando? Me tornei uma pessoa mais calma, pelo menos eu acho isso, menos estressada, me tornei um pai melhor e mais, muito mais presente, vejamos: Arrumei um sócio e saí do escritório da empresa, hoje só trabalho em casa, salvo em ocasiões especiais, isso em detrimento do meu pró-labore, óbvio, mas o que perdi no meu salário ganhei em tempo, ganhei em vento, ganhei em presença, continuo trabalhando muito, as vezes 18 horas, mas trabalho na mesa da cozinha de casa, os meninos tem acesso amplo geral e irrestrito a minha atenção. Fiquei mais perfeccionista e não sei se isso é muito bom.
A família também mudou, hoje temos mais consciência do que comemos, menos refrigerante, mais peixe, mais verde, falta abolir o álcool.
Mais o que realmente mudou foi a perspectiva de tempo e espaço, o tempo agora é nosso bem mais importante, quanto ao espaço, parece que tudo é pequeno, shoppings ficaram tão pequenos que quase nem frequentamos mais, e quando vamos é para observar uma janela, uma janela bem grande que é o cinema, como eu ouvi no vídeo do #SAL, "o horizonte do velejador é o mar", e ele não tem fim.
Descobri que o vento não enfuna apenas as velas, enfuna a mente, expande a visão, e quando isso acontece percebemos que tudo aquilo que pensávamos que era essencial não passa de bugiganga inútil, vencemos o consumismo e ganhamos liberdade!
É isso, hoje considero minha família do mar, ou talvez o mar nos considere uma família, não sei, sei que evoluímos!