terça-feira, 4 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (PARTE 2)

A parte anterior deste post está no link abaixo:
1ª Parte

Não foi a primeira vez que fiquei sozinho no Vivre, ficar sozinho no veleiro é uma solidão agraciada, quase uma longa meditação, diferente da solidão da casa vazia, ficar em silêncio no barco dá autocontrole e traz paz, aliás, paz é a palavra que me vem a cabeça quando lembro desse final de semana.

A noite no Vivre é assim, tudo escuro!
A lua já estava alta, tirei umas fotos, comi um miojo e me deitei, era para eu acordar cedinho e zarpar para o Itagua, antes de dormir me lembrei que existe uma superstição que diz que não se deve zarpar na sexta-feira, será?

Acordei tarde, 09:00 da manhã, rapidinho estava preparando o barco para partir, coloquei as velas, organizei tudo dentro da cabine e só então fiz um cappuccino, quando me casei ganhei uma grande lata de cappuccino de uma prima da Lena, a Lúcia, na época nem sabia que isso existia, hoje toda vez que tomo um bom cappuccino me lembro da Lúcia e daquele presente de casamento.

Já tinha traçado a rota na carta náutica e inserido os pontos no meu GPS, não abro mão de uma rota, ela serve principalmente para me manter a uma boa distância da costa e a um bom tempo dela também, coisa que aprendi com o Ricardo Stark do Gaipava, medo de velejador é pedra, água é o lugar mais seguro para um veleiro, sábias palavras que me salvariam a pele já já.

As 11:00h soltei as amarras e o Vivre estava de novo livre e com os panos em cima, estou pegando um gosto especial por partir a vela, me lembro que algum tempo atrás postei que o motor era mais meu amigo do que as velas, acho que essa amizade vai entrar em crise. A meta era vencer o boqueirão sem usar o motor e depois desta meta cumprida velejar o máximo possível até o Itaguá, não tinha mesmo hora para chegar, a final, o caminho era mais importante do que o destino.

Tinha um vento de uns 5 nós, mas era um vento constante e bem na cara que já era esperado, lá na Ribeira sempre tem esse vento nesse horário e eu contava que não seria diferente . Eu sempre velejei contra o vento, mas sempre me atrapalhei e geralmente não saia do lugar, acabava com vento de través a bombordo, fazia o jaibe e acabava com o vento de través a boreste, ou seja, ficava velejando em uma linha reta, quando cansava de tentar o motor era ligado, as velas arriadas e o problema resolvido. Desde que tive aquela epifania (veja neste post) tenho me dado melhor com vento, foi como se tirassem uma lente embaçada dos meus olhos quando eu olhava para as velas do Vivre, sobre isso, um amigo me disse "BEM VINDO AO PRIMEIRO DIA DO RESTO DA SUA VIDA" e ele não poderia ter escolhido melhor frase.

Feliz da vida, assim que conquistei
o Boqueirão
Com todo o pano em cima fui "bordejando" pela enseada do Flamengo, apanhei um pouco mas não chegou a ser uma surra como das outra vezes, na minha cabeça eu velejaria até perto da Ilha Anchieta e pegaria um través para cruzar o boqueirão, também me preocupava com uma correnteza que tem lá, finalmente cheguei no ponto que colocaria a ilha no través, mas não sei se foi por conta da interferência da ilha no vento, ou se foi uma pegadinha de Éolo, só sei que o vento continuava na minha cara gorda o que só acrescentou um sabor especial a minha vitória sobre o boqueirão.

Uma das coisas que um veleiro sempre oferece é a oportunidade de vencer dificuldades e se sentir bem, velejadores são assim, movidos pela busca incessante do sentir-se bem.

Logo após conquistar o boqueirão ele chegou, o tão esperado vento de través, fui velejando deliciosamente até ponta das Tonihas, onde o vento simplesmente zerou e tive que ligar o motor e as coisas começaram a dar errado...


Continua...

Próximos Posts:
3ª Parte
4ª Parte 
5ª Parte




2 comentários :

  1. Uma velejada sem emoção não é uma velejada..............

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    Respostas
    1. Fredy, até ai estava tudo calmo, a partir do próximo post dessa história é que fica emocionante!

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